sexta-feira, 26 de junho de 2009

Cracolândia

UM INFERNO AFETIVO


Ante ontem, numa calçada da Rua Aurora, ao lado da Praça da República, uma senhora de rua deu um sorriso e me disse: -Moço. Vai com Deus.


Pensei que naquele momento ela estaria mais precisando de Deus do que eu, mas sabe lá.


No dia seguinte começou uma grande operação de vinte instituições dos governos estadual e municipal para intervir na Cracolândia. Buscavam separar os traficantes, dos usuários de droga, dos loucos (20% do contingente) ou dos simples moradores de rua e dos cortiços adjacentes.


Um terço das habitações foi lacrado por absoluta falta de condições. Maconha, crack e cocaína foram apreendidas nessa hierarquia.


Seis doentes graves foram hospitalizados. Loucos foram enviados a serviços especializados. Cada caso foi conduzido e tratado com a devida peculiaridade.


A operação foi precedida, na última segunda feira, por uma reunião na qual estiveram presentes o Comandante do Policiamento do Centro, Coronel Camilo e o Secretario das Subprefeituras, Andréa Matarazzo e 18 outros representantes de órgãos públicos. A liderança da operação esteve a cargo do Coronel, pelas implicações legais que envolvem as questões do espaço público.


O vice-prefeito do centro, com quem almocei, disse-me que as dificuldades são muitas: de ordem prática, jurídica e humana. Observou que o morador de rua, principalmente quem tem ponto fixo, prefere ficar na rua por razões afetivas. Geralmente é bem tratado por pessoas que lhe dão roupas, frutas e mesmo lhe transmitem alguma afetividade verbal, atenções que não recebe em casa. Um morador de rua da Cracolândia chegou a por uma placa, onde estava escrito: Não me acordem, já jantei. Isso porque há tantas instituições que servem comida a noite no centro, que ás vezes eles são abordados mais de uma vez para serem alimentados.


A Cracolândia abriga, no todo, cerca de 500 pessoas, 300 nos cortiços e 200 na rua mesma. Há ainda um contingente de freqüentadores transitórios, vindos de outros bairros e até de municípios vizinhos, atraídos ora pela facilidade de encontrar droga, ora em busca da assistência social dispensada à população pelas ONGS e outros organismos de caráter público.


Já houve um balanço da operação pelas autoridades, mas ainda não há uma avaliação dos seus resultados, nem de suas conseqüências. Mas felizmente o problema se esta circunscrevendo à competência adequada, o poder público, porque realmente não é admissível que cidadãos precisem ligar chuveiros nas janelas dos apartamentos para expulsarem os moradores das calçadas.


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quinta-feira, 25 de junho de 2009

'Chuva' para expulsar drogados das calçadas

Cansados de recorrer aos órgãos públicos sem sucesso, moradores da Rua Guaianases e imediações jogam água na multidão de viciados que ocupam a via e que vieram da Cracolândia. A comunidade alega que não consegue dormir

Marici Capitelli,
marici.capitelli@grupoestado.com.br

Moradores e comerciantes da Rua Guaianases, centro da capital, se ‘defendem’ da multidão de usuários de drogas que toma conta da via com água. Um dos prédios está instalando um sistema hidráulico na marquise, que ‘faz chover’ na calçada para expulsar os viciados. A ideia é de um edifício vizinho, na Rua Conselheiro Nébias, onde a engenhoca funciona há uma semana.


'A lata de lixo da cidade é aqui', diz moradora


O autor da ideia do sistema é Everli Silva Moraes, de 37 anos, que trabalha na reforma do prédio na Conselheiros Nébias. “Esses desocupados em frente à obra atrapalhavam nosso serviço, especialmente quando chegava o caminhão (com material de construção) para descarregar. Em alguns casos, os veículos tiveram que voltar sem descarregar.” A engenheira da obra, Lane Alves, diz que antes da invenção era difícil até entrar no prédio para trabalhar. Foram usados 40 metros de cano.

Para obrigar os drogados - que ficam em bandos - a sair da frente dos edifícios, é jogada água também com mangueiras. Em quase todas as portas de comércio há esguichos. O JT flagrou por três vezes em uma tarde essa tática dos comerciantes. Estavam perambulando pela rua cerca de 200 pessoas. A reportagem ouviu cerca de 20 pessoas na região.

O presidente do Conselho Comunitário do Centro(Conseg), Antonio de Souza Neto, diz que a população passou a reagir contra os usuários porque “não aguenta mais a situação”. Além disso, Neto diz que os moradores perceberam que os viciados, que migraram da Cracolândia, não são perigosos, mas doentes que precisam de tratamento.

“Em toda a reunião do Conseg, esse problema é colocado pela população que procura os órgãos competentes, como Prefeitura e polícia, mas ouve como resposta que ‘é um problema social’. Só que ninguém resolve. Estão nesse impasse há um ano, quando os viciados migraram para cá”, explica. O Ministério Público Estadual já foi acionado.

Pedras e paus

“Não ficamos só na água não. Já jogamos pedras e paus. Nós nos defendemos dessa bagunça que tanto a polícia como a Prefeitura dizem ser um problema social”, diz a síndica do edifício que está implantando o sistema. No mesmo prédio, em assembleia registrada em ata, os moradores decidiram jogar água e pedras das sacadas toda vez que se sentirem incomodados. Eles alegam que não conseguem dormir.

Há pouco tempo, um morador disparou tiros para cima na tentativa de intimidar os usuários e diminuir o barulho. No terceiro domingo de maio e no segundo de junho, os moradores acionaram a PM por causa da confusão.

“Só que, quando a viatura chegou, a multidão de desocupados era tão grande que cercou os policiais”, contam o zelador e um morador de outro prédio. A população viu a polícia acuada e desceu para ajudar. “Enquanto eu corria e pedia reforço, uns 10 vizinhos tentavam ajudar os PMs”, afirma o zelador. “Eu mesmo bati em alguns, não tenho medo, não aguento mais”, diz um engenheiro.

Colaborou Bruna Ribeiro
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quarta-feira, 24 de junho de 2009

Consumo de cocaína cresce na América do Sul, aponta relatório da ONU

O consumo de drogas está estável ou em declínio na maior parte do mundo, diz o Relatório Mundial Sobre Drogas 2009, divulgado nesta quarta-feira pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc). Apesar disso, em 2007, foi registrado um aumento no uso de cocaína no Brasil, Equador, Uruguai, Argentina e Venezuela, e em países da América Central (Guatemala e Honduras) e do Caribe (Jamaica e Haiti).



De acordo com o relatório, o Brasil é o maior mercado de cocaína da América do Sul, um número estimado em cerca de 890 mil pessoas ou 0,7% da população entre os 12 e os 65 anos. O segundo maior mercado para a droga está na Argentina.

A América do Sul é responsável por 45% das apreensões de cocaína em todo mundo, quantidade equivalente a 323 toneladas. No ranking de apreensões, o Brasil é o décimo país do mundo. Em 2007, foram apreendidas 16 toneladas da droga e, em 2006, 14 toneladas.

Para a Organização, os números refletem um “aumento crescente da importância desses países para o tráfico de cocaína, tanto para satisfazer a demanda interna quanto para reexportar a cocaína para mercados como Europa, África e Região do Pacífico.”

O país de trânsito mais importante para o tráfico de cocaína para a Europa, em termos de volume, é a Venezuela, por onde passam 40% da droga transportada. A Colômbia é o país mais citado como origem da cocaína traficada para a Europa, responsável pela produção de 48% do que é apreendido pelos europeus, seguida pelo Peru (30%) e pela Bolívia (18%).

Apesar dos dados sobre a América Latina, a produção de cocaína no mundo caiu ao nível mais baixo nos últimos cinco anos, segundo o relatório. Após atingir o ponto mais alto e superar mil toneladas em 2004, os níveis se mantiveram nos três anos seguintes e a produção anual da droga foi estimada em 845 toneladas em 2008.

Drogas sintéticas e crack

Segundo o relatório, a produção e o uso de de drogas sintéticas cresceram nos últimos anos nos países em desenvolvimento, dentro de um processo em que a fabricação artesanal se transformou em negócio de grande amplitude.

As apreensões de ecstasy dispararam no Brasil em 2007, quando foram interceptados pelas autoridades mais de 211 mil unidades. Em 2006, apenas 11.648 unidades tinham sido apreendidas. O salto nos números fez o Brasil entrar na lista dos 22 países com maiores apreensões de substâncias do grupo ecstasy.

Em 2008, a Polícia Federal (PF) brasileira desmantelou o primeiro laboratório clandestino de ecstasy do país, no Paraná. A maior parte dos comprimidos consumidos no Brasil, porém, é originada da Europa.

Houve um avanço no consumo de crack em capitais e cidades médias brasileiras, e este é apontado por pesquisadores e autoridades policiais como um dos principais desafios a serem enfrentados pelas autoridades nacionais no combate às drogas ilícitas.

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